segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

É claro que nem sempre as coisas acontecem como queríamos que acontecessem. Existem momentos em que sentimos que estamos buscando algo que não está reservado para nós, dando murros em portas que não se abrem, esperando milagres que não se manifestam. Ainda bem que as coisas são assim, se tudo andasse como a gente quer, em breve não íamos ter mais assunto para escrever o roteiro dos nossos dias. Quando estivermos diante de situações que não conseguimos ultrapassar, relaxemos. O Universo, embora não consigamos compreender, continua trabalhando por nós em segredo. Nestes momentos em que não podemos ajudar, preste atenção as coisas simples da vida - no por do sol, nas pessoas que passam na rua, num livro - é a melhor maneira de colaborar... Nunca perca suas esperanças, pois algo de bom sempre lhe está reservado.

Por: Cris Quintana

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

MISTÉRIO

Mitos são construídos sobre ti e tua aparência
Há quem te temas e fujas de tua façanha estratégia
Meio tua inusitada visita as faces são despidas.
A realidade pode ser descortinada do véu da mentira.
Suave ou feroz tu chegas pela janela sonolenta
O dia ensolarado ou chuvoso te aplaude
E os covardes se cobrem com as velhas teias da ilusão
O ouro e a prata se transformam em espelhos quebrados
As fórmulas se vêem como mortas folhas que cobrem sonhos
As ilusões insistem em não perceber os teus olhos presentes
Algo absoluto existe, mesmo com tantos relativos
Mas a resposta que chega responde a fragilidade das ideias
Existir porque pensas! É a limitação da tua cegueira
Acordar do labirinto que experimenta os teus pés
Ela existe e é rainha sem coroa de ouro

E a beleza e o horror fazem de ti, MORTE, um mistério.


Por: Vera Gaiata
A música vibra e pede aplausos
É tocada com curiosa atenção
Cada nota desperta um delírio
Cedendo lugar para o sentimento
A poesia é escrita com cuidado
Quem sabe esconde segredos
Ou será que revela quem é
Aquele menino do passado
Muitas experiências vividas
Decepções passaram ao lado
O sol e a lua deram as mãos
Para celebrar o que sentem
A insensibilidade está presente
Às vezes as cores mudam
Camuflam a identidade do autor
A sensibilidade insiste no momento.

"São os olhos de um poeta louco que contempla a noite. Na palavra certa de um pensamento, só por um momento de inspiração. Quantas noites sem durmir olhando da minha janela, luzes da cidade viaja o pensamento, madrugada adentro enquanto muitos dormem."
Autor desconhecido
Toda mudança positiva - todo salto para um nível maior de energia e consciência - envolve um ritual de passagem. A cada subida para um degrau mais alto na escada da evolução pessoal, devemos atravessar um período de desconforto, de iniciação. Eu nunca conheci uma exceção.

Dan Millman
Dizem que quem procura, acha. Andei pensando que devo tá procurando errado. Foi aí que eu optei por parar de procurar, por deixar me acharem. Porque procuras inúteis e esses achados errados machucam e cansam tanto e eu não quero desistir, perder as forças. Porque eu me conformei com tanta coisa absurda, tanta falta de amor, mas eu ainda tenho esperança de um dia alguém me fazer acreditar de novo e me mostrar o quanto eu tava enganada. Porque eu me adaptei e me fechei por necessidade, não porque eu quis. Aprendi a fingir não ter coração só pra ele continuar aqui, forte, batendo e sonhando em silêncio. Ou você aprende a ser cínica ou você morre por dentro, eu tive que aprender. Mas sabe de uma coisa ? É mais leve. Ser ingênua pesa, porque você sai distribuindo amostras grátis do seu melhor por aí, pra qualquer um, acreditando que vai ter algum valor. E se decepciona, e toda aquela coisa. Depois que você aprende a ser cínica, você se guarda, se poupa. Você prova o mundo e não precisa provar nada pra ninguém. Ser cínica não dói, porque você não acredita nem na dor. E ela vai embora. E uma parte de você vai embora. Melhor assim. Essa mania de acreditar em tudo e confiar em todos só fazia sofrer. Melhor assim, menina.
Marcella Fernanda

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Se me perguntarem qual o sentimento que considero mais bonito ou mais importante, vou abrir um sorriso e dizer: 
O correspondido!

Martha Medeiros

domingo, 18 de dezembro de 2011

(...) A vida humana é apenas uma ilusão perpétua; o que fazemos é enganar-nos e iludir-nos mutuamente. Ninguém fala de nós na nossa presença como na nossa ausência. A união que existe entre os homens é fundada sobre este mútuo embuste; e poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse o que o seu amigo diz dele quando não está presente, ainda que ele fale então sinceramente e sem paixão.
O homem é apenas disfarce, engano e hipocrisia em si mesmo e para com os outros. Não quer que lhe digam a verdade e evita dizê-la aos outros; e todas estas disposições tão afastadas da justiça e da razão têm uma raiz natural no seu coração.

Blaise Pascal, in "Pensamentos"

A Hipocrisia do Amor-Próprio

A natureza do amor-próprio e deste eu humano é de só se amar a si e de só se considerar a si. Mas que há-de fazer? Não saberia impedir que este objeto que ama esteja cheio de defeitos e de misérias: quer ser grande e vê-se pequeno; quer ser feliz e vê-se miserável; quer ser perfeito - vê-se cheio de imperfeições; quer ser objeto do amor e da estima dos homens e vê que os seus defeitos só merecem a sua aversão e o seu desprezo. Este embaraço em que se encontra produz nele a mais injusta e a mais criminosa paixão que é possível imaginar; porque concebe um ódio mortal contra esta verdade que o repreende, e que o convence dos seus defeitos. Ele desejaria aniquilá-la, e não a podendo destruir em si mesma, destrói-a, tanto quanto pode, no seu conhecimento e no dos outros, isto é, põe todos os cuidados em encobrir os seus defeitos, aos outros e a si mesmo, e não suporta que lhos façam ver, nem que lhos vejam.É sem dúvida um mal estar cheio de defeitos; mas é ainda um mal muito maior estar cheio e não os querer reconhecer, visto que é acrescentar-lhe ainda o de uma ilusão voluntária. Não queremos que os outros nos enganem; não achamos justo que queiram ser mais estimados por nós do que o que merecem: não é portanto justo também que os enganemos e queiramos que nos estimem mais do que merecemos.
Assim, quando só descobrem imperfeições e vícios que nós com efeito temos, é visível que não nos prejudicam, visto que não são eles a causa dessas imperfeições, e que nos fazem um benefício, por nos ajudarem a libertar-nos de um mal, que é a ignorância das imperfeições. Não nos devemos zangar porque as conheçam, e porque nos menosprezem: sendo justo que nos conheçam pelo que somos, e que nos desprezem se somos desprezíveis.
Eis os sentimentos que nasceriam de um coração cheio de rectidão e de justiça. Que devemos portanto dizer do nosso, quando nele encontrarmos uma disposição completamente contrária? Pois não será verdade que odiamos a verdade e aqueles que no-la dizem, e que gostamos que se enganem com vantagem para nós e que queremos ser estimados por eles por sermos diferentes daquilo que com efeito somos? 

 Blaise Pascal, in "Pensamentos"

Cada um Tem o Seu Conceito de Felicidade

Muita gente só é capaz de uma felicidade reduzida: o fato de a sua sensatez não poder proporcionar-lhes mais felicidade não constitui um argumento contra ela, não mais do que se deve ver um argumento contra a medicina no fato de serem algumas pessoas incuráveis e outras sempre doentias.
Que cada um possa ter a hipótese de encontrar justamente a concepção da vida que lhe permita realizar o seu máximo de felicidade: isso não impede necessariamente que a sua vida permaneça lastimável e pouco invejável.

Friedrich Nietzsche, in 'Aurora'

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quintal

Cabelo fora do lugar, modelo regular
Ela veio me mostrar que o céu é doce
Mais doce do que a sensação, velocidade som
Bem mais doce do que a sorte que me faz cantar
A melodia colorida pra esquecer
O mundo livre que não deixa inventar
A fantasia que promove o temporal
E a calmaria plena no meu quintal
Não fez silêncio pra escutar, urgência singular
Ela veio me mostrar que o céu é doce
Tão doce quanto a luz solar, conquista devagar
Bem mais doce do que a sorte que me faz cantar
A melodia colorida pra esquecer
O mundo livre que não deixa inventar
A fantasia que promove o temporal
E a calmaria plena no meu quintal

Acústicos e Valvulados

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Quem sou eu?

Eu às vezes não entendo!
As pessoas em um jeito
De falar de todo mundo
Que não deve ser direito.
Aí eu fico pensando

Que isso não está bem.
As pessoas são quem são,
Ou são o que elas têm?
Eu queria que comigo

Fosse tudo diferente.
Se alguém pensasse em mim,
Soubesse que eu sou gente.
Falasse do que eu penso,

Lembrasse do que eu falo,
Pensasse no que eu faço
Soubesse por que me calo!
Porque eu não sou o que visto.

Eu sou do jeito que estou!
Não sou também o que eu tenho.
Eu sou mesmo quem eu sou! 

Pedro Bandeira

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Exagerada toda a vida: minhas paixões são ardentes; minhas dores de cotovelo, de querer morrer; louca do tipo desvairada; briguenta de tô de mal pra sempre; durmo horas seguidas; meus amigos são semi-irmãos; meus amores são sempre eternos e meus dramas, mexicanos.

Clarice Lispector

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Porque a força de dentro é maior. Maior que todo o mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim!!

Caio Fernando Abreu
Quem deseja aprender a voar, deve primeiro aprender a caminhar, a correr, a escalar e a dançar.
Não se aprende a voar voando.

Friedrich Nietzsche
"... No ultimo mês sinto ter vivido uma década e, na próxima semana, quero viver pelo menos meio século! Quero que tudo seja intenso, exagerado, louco, porque só assim fico satisfeita..."

Clarice Lispector

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A TRISTEZA PERMITIDA

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como? Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.
“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.

Por:  Martha Medeiros

Sabor e Saber

Simplesmente, não sei: embora raras vezes eu já consiga entrar nele, sinto que este é um dos lugares de maior descanso, de maior abertura, de maior oportunidade, para onde a liberdade de vez em quando me traz.
A vida é tecida com os fios disponíveis de cada agora. De cada respiro. De cada ação. De cada acontecimento. De cada sabor. É essa tecelã que olha para você neste instante e me olha também. O que ainda não veio, quem sabe? Eu não sei.

Por: Ana Jácomo

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Com o Coração

..."Não precisa ter pauta, seguir roteiro, deixa a conversa acontecer de improviso, uma lembrança puxando a outra pela mão, mas conta de você e deixa eu lhe contar de mim. Dessas coisas. De outras parecidas. Ouve também com os olhos. Escuta o que eu digo quando nem digo nada: a boca é o que menos fala no corpo. Não antecipe as minhas palavras. Não se impaciente com o meu tempo de dizer. Não me pergunte coisas que vão fazer a minha razão se arrumar toda para responder. Uma conversa sem vaidade, ninguém quer saber qual história é a mais feliz ou a mais desditosa.
Hoje eu quero conversar com um amigo pra falar também sobre as coisas bacanas da vida. As miudezas dela. A grandeza dela. A roda-gigante que ela é, mesmo quando a gente vive como se estivesse convencido de que ela é trem-fantasma o tempo inteiro. Um amigo pra falar de coisas sensíveis. Do quanto o ser humano pode ser também bondoso, honesto, afetuoso, divertido e outras belezas. Dos lugares onde nossos olhos já pousaram e daqueles onde pousam agora. Um amigo para conversar horas adentro, com leveza, de coisas muito simples, como a gente já fez mais amiúde e parece ter desaprendido como faz. Um amigo para se conversar com o coração.
E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras."


Por: Ana Jacomo - Texto completo em: http://anajacomo.blogspot.com/2011/08/com-o-coracao.html
Passei um tempo tão longo lustrando aquela falta com tanto olhar que perdi de vista a luz do que eu tinha. Ao me aproximar de novo, interessada, de cada presente, comecei a redescobrir tesouros esquecidos, um a um.
Coisas simples, muito simples, e pra lá de valiosas, que o sentimento de míngua tem vez que afeta a percepção das preciosidades existentes. Ao me aproximar de novo, interessada, de cada presente, o que faltava continuou a faltar do mesmo jeito sincero, mas meu olhar já era bem diferente.
 Por: Ana Jácomo
Os olhos são órgãos marotos. Mesmo perfeitos, não são dignos de confiança. “Não vemos o que vemos; vemos o que somos”, escreveu Bernardo Soares. A gente pensa que os olhos põem dentro o que está longe, lá fora, quando o que os olhos fazem é por lá longe o que está dentro.
É o caso dos olhos do pai e os olhos do apaixonado por sua filha… Olho de pai é olho que se educou com a vida. Conhece a menina, viu-a nascer, crescer, voar, cair… Alegrou-se nos dias de sol, entristeceu-se nos dias de sombras e escuridão.
Os olhos do apaixonado são diferentes. Neles mora uma pitada da loucura que se chama fantasia. O apaixonado vê como realidade aquilo que existe dentro dele como sonho. Versinho enorme de Fernando Pessoa: “Quando te vi, amei-te já muito antes”. Traduzindo: vejo no seu rosto o rosto que já morava dentro de mim, adormecido… O apaixonado é um porta-sonhos.
Vocês, meu leitores, não devem estar percebendo a propósito de que é essa meditação sobre os olhares. É que eu escrevo por meio de parábolas, e o que está em jogo é um pai de olhar claro, uma donzela linda, sua filha, e um apaixonado que vê com olhos de poeta. Respectivamente, o professor José Pacheco, a Escola da Ponte e eu, Rubem Alves.
Visitei Portugal, acho que no ano 2000, e lá conheci uma escola diferente: a Escola da Ponte. Para mim, foi um espanto. Fiquei apaixonado e escrevi um livrinho sobre ela: “A Escola com que Sempre Sonhei Sem Imaginar que Pudesse Existir”. Amei a Escola da Ponte, amor à primeira vista.
Sou um educador. Escrevi muitas coisas sobre a educação no transcorrer da minha vida. Mas, de tudo o que escrevi, acho que minha contribuição mais significativa para a educação foi esse relato espantado e apaixonado.
A Folha publicou uma entrevista com o título “O lado escuro da Escola da Ponte” (7 de março de 2011). Nessa entrevista, o professor José Pacheco manifestou a sua preocupação com esse livro, exatamente por ele ter saído de um olhar apaixonado. A paixão obscurece os olhos que se põem então a construir mitos. E os mitos podem ser enganadores. O meu livrinho poderia levar os leitores a fantasiar coisas maravilhosas sobre a escola que não correspondem à realidade.
O que são mitos? Mitos são sonhos transformados em poesia. E a poesia tem poderes mágicos de transformar e dar vida. Quem explica o mito é Fernando Pessoa:
“O mytho é o nada que é tudo;/ Sem existir, bastou./ Por não ter vindo foi vindo e nos creou./ Assim a lenda se escorre a entrar na realidade/ E a fecundá-la decorre”.
A visão mítica, que não é intencional, acendeu sonhos que dormiam em mim. Aí me vieram ao pensamento estes três textos que dizem o que penso.
Primeiro, Miguel de Unamuno: “Recuerda, pues, o sueña tú, alma mia -la fantasia es tu sustancia eterna lo que no fué; com tus figuraciones hazte fuerte, que eso es vivir, y lo demás es muerte”.
Depois, as palavras de Tolstói, que Guimarães Rosa cita com aprovação: “Se descreves o mundo tal como é, não haverá em tuas palavras senão muitas mentiras e nenhuma verdade”.
Finalmente, esse delicioso poeminha de Mário Quintana sobre as utopias: “Se as coisas são inatingíveis, ora… não é motivo para não querê-las. Que tristes os caminhos se não fora a presença distantes das estrelas”.

Continuarei a apontar para as estrelas…

Por: Rubem Alves, publicado na Folha de S.Paulo, em 5/4/2011.
"Pequenas coisas...
Detalhes mínimos,
Gestos inquietos que fazem a diferença.
Nos perdemos nos grandes fatos,
E pouco encontramos naquilo que não percebemos:
No pouco visto... no pouco ouvido... no pouco sentido.
Cada passo dado... é um "rastro" que de nós fica.
E cada rastro que deixamos ,
É um mundo nosso que construímos...
Somos um "mapa":
E só quem tem os olhos da alma,
Consegue desvendá-lo..."

Por: Patty Vicensotti
"Não vou desistir, porque se eu perder vai ser porque não fui boa o bastante e não porque tive medo de tentar."
Da vida não quero muito.
Quero apenas saber que tentei tudo que quis, tive tudo o que pude, amei tudo que valia.
E perdi apenas o que, no fundo, nunca foi meu!  
“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

Guimarães Rosa.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Mudanças

Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os seus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda. Durma no outro lado da cama... Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais... leia outros livros.
Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes, novos temperos, novas cores, novas delícias.
Tente o novo todo dia. O novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
A nova vida. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida, compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete, outro creme dental... Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais, de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, troque de carro, compre novos óculos, escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios, quebre delicadamente esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!

Por: Clarice Lispector

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A gente deve rir mais da vida e das desgraças. É claro que às vezes a coisa enrosca, aperta, complica, pesa. Mas tem que saber dar a volta por cima, rir, rir, rir.
Rir absurdamente. Rir desajeitadamente. Rir escandalosamente. Inventar um riso e rir pra ele. Inventar um riso e rir dele mesmo. Inventar e rir de si mesmo.

Clarissa Corrêa
Nem sempre é como um sonho bom. E precisamos lidar com isso. Nem que seja na marra. Nem que tenha que engolir o choro e de vez em quando forçar um ou outro sorriso. Nem que a gente tenha que fingir que está tudo bem.

Clarissa Corrêa